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  • Foto do escritorNoah Gabriel

Nise da Silveira

Nise Magalhães da Silveira nasceu em 1905 e ajudou a escrever e revolucionar a história da psiquiatria no Brasil e no mundo. Nascida em Maceió, Alagoas, ela ficou conhecida por humanizar o tratamento psiquiátrico e era contrária às formas agressivas usadas em sua época, como o eletrochoque.


SOBRE A NISE

De uma inteligência rara e inquietação gigantesca, Nise também inspirou quem conviveu com ela, como é o caso de Gonzaga Leal, artista e terapeuta ocupacional. Ele foi amigo pessoal da alagoana e afirma que "estar junto dela era objeto de amor". "A Nise, para mim, é uma grande inspiração. Ela era uma mulher de uma cultura muito superior e de uma curiosidade absurda; uma mulher que, como ela dizia, era um Lampião, no melhor sentido da coragem, de ser destemida e, além de tudo, uma nordestina; uma mulher que andava de braços colados com o seu desejo."

Em terras de sanidade obrigatória e desenfreada, quem permite a loucura é rei. E rainha. Pois imagine que, sãos e fora de manicômios, estejamos saindo no tapa nossas verdades. Dividindo o mundo entre o bem e o mal. Contabilizando relatos selvagens. Justificando nossa falta de utopia com um racionalismo paralisante. Deixando de sonhar e de se arrepender.

Nem isso, nem aquilo. Nossa existência se encontra bem ali, no meio do isso e do aquilo. No incerto e no incalculável. Entre o olhado e o invisível.

Nise da Silveira, psiquiatra alagoana, enxergou a riqueza de seres humanos que estavam "no meio do caminho". No meio do caminho entre o existir e a dignidade. No meio do caminho entre a loucura e a exclusão total. Entre o aceitável e o abominável.

Essa mulher se rebelou contra a psiquiatria que aplicava violentos choques para "ajustar" pessoas e propôs um tratamento humanizado, que usava a arte para reabilitar os pacientes.

Esquizofrênicos marginalizados e esquecidos puderam ser autores de obras hoje expostas no Museu de Imagens do Inconciente no Rio de Janeiro (RJ). A arte marcou o renascimento daquelas pessoas para a sociedade.

Os ensinamentos de Nise nos falam de uma atualidade que se repete a cada vez que a loucura é estigmatizada e polarizada: é ou não é louco(a). Cobramos de nós mesmos, o tempo todo: sejamos funcionais. Como se não pudéssemos falhar ou viver nossas escolhas fora da curva que definiram para nós.

Nise, essa senhorinha miúda, agigantou a humanidade ao cuidar de brasileiros rejeitados pelo sistema e isolados do convívio. A história dela já foi tema de documentários e agora volta às telas com o filme inédito Nise - Coração da Loucura, (estarei colocando o vídeo no final da publicação)

Dirigido por Roberto Berliner e estrelado por Gloria Pires, o longa, baseado no livro Nise - Arqueóloga dos Mares, do jornalista Bernardo Horta, traz um recorte acessível e emocionante da atuação da psiquiatra e sua defesa da arte como principal ferramenta de reintegração de pacientes chamados "loucos".

Em 1926, ao se formar na Faculdade de Medicina da Bahia, Nise era a única mulher em uma turma de 157 alunos. Ainda na graduação ela apresentou o estudo, Ensaio sobre a criminalidade da mulher no Brasil.


PRISÃO

Nise ficou presa de 1934 a 1936, durante o Estado Novo, acusada de envolvimento com o comunismo. Ela foi denunciada por uma colega de trabalho, que era enfermeira. No presídio Frei Caneca, ela dividiu a cela com Olga Benário, a militante comunista alemã que na época era casada com Luís Carlos Prestes, lembra a revista Cult.


IMPLEMENTAÇÃO DA TERAPIA OCUPACIONAL

Em 1944, Nise passou a trabalhar no Hospital Pedro II, antigo Centro Psiquiátrico Nacional, no Rio de Janeiro. Ela se recusou a seguir o tratamento da época, que incluía choque elétrico, cardiazólico e insulínico, camisa de força e isolamento. Ao dizer "não", a psiquiatra foi transferida, como "punição", para o Setor de Terapia Ocupacional do Pedro II. A reportagem da revista Cult lembra que esse era um espaço desprestigiado na época.

Porém, essa transferência foi fundamental para a revolução que Nise provocaria na psiquiatria: foi nesse setor do hospital que ela implementou, junto com o psiquiatra Fábio Sodré, a Terapia Ocupacional no tratamento psiquiátrico.


A ARTE


Nise percebeu que as artes plásticas eram o canal de comunicação com os pacientes esquizofrênicos graves, que até então não se comunicavam verbalmente. As obras produzidas por eles davam "voz" aos conflitos internos que viviam.

Além do efeito terapêutico, as artes plásticas possibilitaram que os pacientes (ou clientes, como Nise gostava de chamá-los) se tornassem verdadeiros artistas.

A produção do ateliê do Setor de Terapia Ocupacional já tinha despertado a atenção de pesquisadores de saúde mental e médicos, mas críticos de arte também viram naqueles trabalhos obras artísticas dignas de exposição. Foram organizadas duas exposições internacionais e, em 1952, foi inaugurado o Museu de Imagens do Inconsciente, no Rio de Janeiro.


INTRODUÇÃO DOS ANIMAIS

Foi uma pioneira na pesquisa das relações emocionais entre pacientes e animais, que costumava chamar de co-terapeutas.

Percebeu essa possibilidade de tratamento ao observar como melhorou um paciente a quem delegara os cuidados de uma cadela abandonada no hospital, tendo a resposabilidade de tratar deste animal como um ponto de referência afetiva estável em sua vida.

Ela expôs parte deste processo em seu livro "Gatos, A Emoção de Lidar", publicado em 1998.


A PSIQUIATRIA

Nise apontou falhas na psiquiatria, contestou práticas e demonstrou soluções, dando novos contornos e sentidos aos tratamentos e às relações entre psiquiatras e pacientes. Em seus 94 anos de vida, a alagoana publicou dez livros e escreveu uma série de artigos científicos.


RECONHECIMENTO INTERNACIONAL

Foi membro fundadora da Sociedade Internacional de Expressão Psicopatológica ("Societé Internationale de Psychopathologie de l'Expression"), sediada em Paris.

Sua pesquisa em terapia ocupacional e o entendimento do processo psiquiátrico por meio das imagens do inconsciente deram origem a diversas exibições, filmes, documentários, audiovisuais, cursos, simpósios, publicações e conferências.

Em reconhecimento a seu trabalho, Nise foi agraciada com diversas condecorações, títulos e prêmios em diferentes áreas do conhecimento, entre outras:

  • "Ordem do Rio Branco" no Grau de Oficial, pelo Ministério das Relações Exteriores (1987)

  • "Prêmio Personalidade do Ano de 1992", da Associação Brasileira de Críticos de Arte

  • "Medalha Chico Mendes", do grupo Tortura Nunca Mais (1993)

  • "Ordem Nacional do Mérito Educativo", pelo Ministério da Educação e do Desporto (1993)

Seu trabalho e ideias inspiraram a criação de museus, centros culturais e instituições terapêuticas, similares às que criou, em diversos estados do Brasil e no exterior, por exemplo:

  • o "Museu Bispo do Rosário", da Colônia Juliano Moreira (Rio de Janeiro)

  • o "Centro de Estudos Nise da Silveira" (Juiz de Fora, Minas Gerais)

  • o "Espaço Nise da Silveira" do Núcleo de Atenção Psicossocial (Recife)

  • o "Núcleo de Atividades Expressivas Nise da Silveira", do Hospital Psiquiátrico São Pedro (Porto Alegre, Rio Grande do Sul)

  • a "Associação de Convivência Estudo e Pesquisa Nise da Silveira" (Salvador, Bahia)

  • o "Centro de Estudos Imagens do Inconsciente", da Universidade do Porto (Portugal)

  • a "Association Nise da Silveira - Images de l'Inconscient" (Paris, França)

  • o "Museo Attivo delle Forme Inconsapevoli" (hoje renomeado "Museattivo Claudio Costa", (Genova, Itália)

O antigo "Centro Psiquiátrico Nacional" do Rio de Janeiro recebeu em sua homenagem o nome de "Instituto Municipal Nise da Silveira". Em 2015, foi incluída na lista das Grandes mulheres que marcaram a história do Rio".


OBRAS PUBLICADAS

  • SILVEIRA, Nise da. Jung: vida e obra. Rio de Janeiro: José Álvaro Ed. 1968.

  • SILVEIRA, Nise da. Imagens do inconsciente. Rio de Janeiro: Alhambra, 1981.

  • SILVEIRA, Nise da. Casa das Palmeiras. A emoção de lidar. Uma experiência em psiquiatria. Rio de Janeiro: Alhambra. 1986.

  • SILVEIRA, Nise da. O mundo das imagens.São Paulo: Ática, 1992.

  • SILVEIRA, Nise da. Nise da Silveira. Brasil, COGEAE/PUC-SP 1992.

  • SILVEIRA, Nise da. Cartas a Spinoza. Rio de Janeiro: Francisco Alves. 1995.

  • SILVEIRA, Nise da. Gatos - A Emoção de Lidar. Rio de Janeiro: Léo Christiano Editorial, 1998.


Créditos: Wikipédia

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